Um
dos primeiros a destacar a necessidade de uma Ecologia Digital que se aproxima
da forma como a concebemos foi James Boyle,
do Direito da Duke
University. Em seu livro de 96, "Shamans,
Software and Spleens", buscou construir uma teoria
social da sociedade da informação. O livro, de fato, expande
as idéias apresentadas pela "Declaração
de Bellagio", de 93, que contou com a co-autoria de Boyle:
"A lei de propriedade intelectual contemporânea é construída
em torno da noção do autor como um indivíduo, criador
original e solitário, e é para este quadro que suas proteções
são concebidas. O "autor", neste sentido moderno, é
o criador de obras de arte únicas, cuja originalidade garante sua proteção
sob as leis de propriedade intelectual -- particularmente as leis de "copyright"
e de "direitos de autoria". Esta noção, no entanto,
não é nem natural nem inevitável. Ao contrário,
surgiu em um tempo e lugar específicos -- a Europa do século
18 -- em conexão com um formato particular de tecnologia da informação
-- a imprensa."
The
Bellagio Declaration (1993 Rockefeller Conference)
De acordo com Boyle (in "The
Need for Digital Ecology"), existe hoje a necessidade de um ativismo
político sobre a questão da propriedade intelectual, de forma
a combater as tendências estruturais do modelo estabelecido para a sobre-proteção
dos direitos autorais. O fato é que o tema não tem um lugar correspondente
no debate popular ou no entendimento político, e neste contexto é
que surge a Ecologia Digital, exercitando uma analogia com o movimento
ambientalista de forma a demonstrar como concebermos uma "economia política
da propriedade intelectual". Sob o conceito do "ambientalismo",
diferentes grupos com diferentes interesses (algumas vezes contraditórios)
puderam se organizar em torno de uma ampla coalizão política.
É exatamente isto que precisamos agora no tema da mídia digital
- uma abordagem política que possa efetivamente defender o domínio
público e as liberdades do ambiente digital...
Leia o artigo completo
no site Ecologia Digital.
Outas Abordagens
Pesquisando a Rede, eis que deparo com mais um colega fazendo utilização
do conceito de Ecologia Digital. Neste
caso com uma abordagem cognitiva, mais descritiva das características
do ciberespaço em sua interface com a educação e o estudo
dos processos de aprendizado, e menos ativista no sentido de observar e agir
sobre as ameaças às liberdades do ambiente digital:
"A ecologia digital é uma conseqüência da
evolução das tecnologias da informação. Nesta
ecologia, o conceito de texto escrito é estendido para a noção
de hipertexto disponibilizado através de uma rede de computadores.
O princípio da ecologia digital considera a rede como um sistema
subsunçor
(*), que é capaz de produzir conhecimento à partir de novas
informações (novos conceitos) que são ligadas a uma estrutura
de conhecimentos anteriores. Vimos na teoria da autopoiese
(**) que o conhecimento
é representado por uma estrutura encadeada onde novos conceitos se
relacionam a conceitos anteriores. Também observamos que o universo
digital é uma estrutura de hiperdocumentos relacionados entre si por
hiper-referências. Juntando estas teorias podemos considerar que o ciberespaço
é na realidade uma organização de conhecimentos.
Contudo, nesta organização o conhecimento não está
retido a uma entidade física, como nas ecologias oral e escrita. Na
ecologia digital o conhecimento pertence ao coletivo de sistemas computacionais
interligados em rede: o ciberespaço. É neste ambiente que os
indivíduos descobrem e constroem seus objetivos, e se conhecem como
coletivos inteligentes."
in "A
Educação na Ecologia Digital",
Marcelo Pereira Nunes e Lucia
Maria Martins Giraffa
*
- A teoria autopoiética tem como idéia básica um sistema
organizado auto-suficiente. Este sistema produz e recicla seus próprios
componentes diferenciando-se do meio exterior. O termo Autopoiese foi criado
pelos biólogos chilenos Humberto Maturana e Francisco Varela. A teoria
Autopoiética tem sido aplicada em Imunologia, na interação
homem computador, sociologia, economia, filosofia e administração
pública.
**
- A aprendizagem significativa ocorre quando a nova informação
adquirida "ancora-se" em conceitos relevantes previamente existentes
na estrutura cognitiva do aprendiz. Neste processo, a nova informação
interage com uma estrutura de conhecimento específica, que Ausubel chama
de "conceito subsunçor", ou simplesmente "subsunçor".
Esta palavra é uma tentativa de se traduzir o termo inglês "subsumer".