Overturma faz o dever de casa
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Overturma faz o dever de casa


Estiveram reunidos no Rio, nos dias 15 e 16 deste maio, overmanos, overmanas e demais overpitaqueiros para avaliar detalhadamente e em conjunto os vários aspectos dos primeiros meses de funcionamento do Overmundo -- novo coletivo virtual e promissor canal alternativo de expressão da cultura brasileira. Hermano Vianna, Ronaldo Lemos e cia. ativaram o debate entre os 27 overmanos (mistura de blogueiro, jornalista, produtor cultural, artista e filósofo) que compõem a rede representando todos os cantos da federação. Dentre o universo de assuntos que pintaram, destaco a busca de melhor interface para o site, idéias sobre os procedimentos da inovadora 'sala de edição' virtual, novas formas de intervenção analógica (não-digital) nas ações da cultura local, estratégias de difusão dos conceitos da cultura digital, e também alternativas de sustentabilidade para o projeto no futuro.

Na minha perspectiva, o projeto Overmundo é um laboratório único para avaliar os problemas e os desafios que a implementação de um verdadeiro projeto de 'jornalismo cidadão' a nível nacional podem apresentar, e para mim foi uma oportunidade ótima poder acompanhar o debate. Um aspecto fundamental do projeto é o foco na difusão pragmática das novas formas de licensiamento de conteúdo e gerenciamento de direitos autorais (Creative Commons). Durante o evento Ronaldo Lemos apresentou um 'discurso padrão' a ser apropriado pelos overmanos, e por quem mais quiser, para contextualizar e disseminar a utilização prática das novas licensas. Disponibilizamos aqui o áudio em mp3 e a apresentação (alguém aí sabe sincronizar um ppt com um mp3 num arquivo mpg?).

Recentemente houve algum ruído na blogosfera sobre o fato do Overmundo ser um projeto viabilizado por captação de recursos através da lei de incentivo cultural, e também por assemelhar-se ao digg. Entende-se o sentimento dos blogueiros, adeptos do 'do it yoursef', sobre a alavancagem de um volume alto de recursos para se montar um site. Afinal, aprendemos todos que basta uma idéia na cabeça e um blog gratuito na web para que coisas interessantes comecem a acontecer. Mas o ataque à turma que vislumbrou algo mais adiante, se mobilizou, montou o projeto, conquistou os recursos, e agora está trabalhando duro para que a idéia de uma rede colaborativa de âmbito nacional dê certo, cheira a 'dor de cotovelo' mal resolvida.

"Fazer site colaborativo com drupal? Claro, monto um em menos de uma hora, cheio de recursos interessantes. Mas sempre falta alguma coisa, porque eu não tenho grana pra contratar equipe, não tenho tempo pra me dedicar, porque um módulo específico ainda não está à altura do que eu preciso. E, com exceção de casos como o próprio china, o site vai ser fatalmente abandonado depois de alguns meses, por falta de saco. Já passei por essa situação meia dúzia de vezes, e fiquei realmente feliz de ter visto o overmundo encontrar uma maneira de trilhar outro rumo. ... não acho que desqualificar o primeiro site que conseguiu articular um caminho viável seja uma boa estratégia. É tiro no pé. É dar razão pra quem acha que o estado não deve investir em cultura, que produção colaborativa é coisa de cumuna, e que dinheiro da Petrobras tem é que sustentar barretão e companhia. Meu inimigo está em outra parte, e a guerra é outra, maior do que se imagina."
Felipe Fonseca - comment no BR.BR-101.org
Como bem colocado pelo FF, todos os que já se viram engajados em projetos colaborativos na rede sabem por experiência própria que falta neste contexto modelos inovadores de financiamento que possam viabilizar o constante aperfeiçoamento tecnológico, e o impulso à rápida replicação e implementação dos conceitos e atitudes pertinentes na ecologia analógica -- ou seja, nas interações do mundo real. Afinal, quem poderia patrocinar tal iniciativa? As empresas de mídia no Brasil ainda não conseguem enxergar a tendência mundial da rede, e portanto cabe ao estado induzir iniciativas que julgue pertinentes para alavancar inovação em setores estratégicos. Veja a dica do Sílvio Meira (de blog novo) na questão:

"ron bloom, fundador do podshow, aposta que em cinco anos 50% do conteúdo será gerado pelo público e não pelas produtoras e artistas “clássicos”. pode até ser que sites como overmundo, “coletivos virtuais” capazes de manter viva uma discussão sobre rock na amazônia por 45 dias, sejam arautos de novos modelos de criação e propagação de conteúdo cultural"
em 5 anos, 50% - blog. meira.com

O Overmundo não é um site. Quem o enxerga dessa forma reducionista perde a visão do contexto maior onde se insere esta movimentação, e basta alguma interação com os overmanos para sacar o diferencial. O Overmundo é um coletivo aberto, uma rede colaborativa de difusão cultural, e talvez a única iniciativa relevante de jornalismo cidadão no país. Vale à pena acompanhar e colaborar com esta turma.

UPDATE: Não deixem de conferir a apresentação do Ronaldo Lemos (slides + áudio) 'Conteúdo Colaborativo: uma crise, uma novidade, e a questão do controle'.




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